Pós-cultura reconhece Notório Saber das lideranças quilombolas Eliete Paraguassu (BA) e Seu Badu (MG)

Pós-cultura reconhece Notório Saber das lideranças quilombolas Eliete Paraguassu (BA) e Seu Badu (MG)

Instituto amplia para cinco o número de títulos concedidos a mestres de saberes tradicionais, sendo três pessoas indígenas e duas quilombolas, em uma significativa contribuição para o combate ao racismo epistêmico.

O Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura) do IHAC/UFBA aprovou, em reunião colegiada realizada ontem (11/12), o reconhecimento do Notório Saber de duas importantes lideranças quilombolas: Eliete Paraguassu, marisqueira, mãe solo, liderança comunitária de Ilha de Maré e vereadora pelo PSOL em Salvador; e Mestre Badu, referência histórica do território quilombola Mato do Tição, em Jaboticatubas (MG). Com as novas concessões, o programa totaliza cinco títulos de notório saber aprovados no último ano.

Os memoriais foram avaliados pela Comissão de Notório Saber, presidida pelo professor Dr. Felipe Milanez e integrada pelos docentes permanentes Dr. Djalma Thürler, Dr. Leonardo Costa e pelo professor visitante de notório saber Dr. Joelson Ferreira. A comissão aprovou por unanimidade os pareceres favoráveis às titulações.
A construção dos memoriais descritivos deu-se de maneira coletiva. O memorial de Eliete Paraguassu foi coordenado pelo professor Milanez em conjunto com as pesquisadoras do Grupo de Ecologias Políticas da UFBA – Simone Alves (doutoranda, com bolsa CAPES) e Damoran (graduanda, com bolsa SANKOFA/UFBA) – e contou com o apoio de Daniela Lima (doutoranda no Pós Cultura), Kaylane Matos (formada no BI Humanidades, graduanda na FACOM), Dra. Thaís Dias Gomes e Zezé Pacheco (da CPP).
No parecer, os professores destacam as grandes contribuições científicas e a luta histórica de Eliete Paraguassu, e destacam que: “As referências de trabalhos científicos compilados permitem inferir que Eliete Paraguassu, em conjunto com outras mulheres marisqueiras e lideranças como Marizélia Lopes, a “Nega”, foram responsáveis por mudar completamente o paradigma da produção científica sobre a contaminação da Baía de Todos os Santos, como demonstrado no memorial nas dezenas de artigos científicos, teses e dissertações que tem o pensamento e as ideias da candidata como alicerce fundamental.”
Já o documento Memorial de Mestre Badu, “Seu Badu e a escola da Natureza”, também foi realizado de forma coletiva e coordenada pela professora Dra. Luciana de Oliveira, que é presidente da Comissão Gestora da Formação Transversal em Saberes Tradicionais e integrante do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, com uma equipe de pesquisa e extensão, como reconhecimento à trajetória política, espiritual e da luta territorial do líder quilombola mineiro.
Com essas aprovações, o Pós-Cultura consolida sua atuação na valorização de saberes ancestrais. “A universidade está vivendo uma transformação, com a superação do modelo eurocêntrico e a derrota do projeto colonial”, afirma o professor Milanez, presidente da comissão.
Esse é o quinto notório saber reconhecido pelo programa desde que Milanez assumiu a cadeira da presidência dessa Comissão Notório Saber no Pós Cultura, ao lado dos professores Djalma Thürler e Leonardo Costa, e nessa última reunião com mestre Joelson Ferreira. Além de Eliete Paraguassu e Mestre Badu, o programa já reconheceu o notório saber de Washington Ténorio, Pajé Jaguriçá Pankararu, professor Iaut Arara, que é uma liderança indígena de um de recente contato no Pará, na região de Altamira, e do cacique Megaron Txucarramãe, que vive no Xingu, no Mato Grosso, todos com coordenação da redação dos memoriais realizada pelo presidente da comissão.
As novas titulações reafirmam o compromisso institucional da UFBA com a presença, a legitimidade e o rigor acadêmico dos conhecimentos produzidos por povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

 

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