Espetáculo “Cartas de Gaza”, dirigido por ex-diretor do IHAC, estreia em Salvador

Espetáculo “Cartas de Gaza”, dirigido por ex-diretor do IHAC, estreia em Salvador

O espetáculo “Cartas de Gaza”, resultado de um projeto de montagem teatral desenvolvido pelo professor Sergio Farias, estreia no dia 7 de novembro. As apresentações acontecerão no Teatro Molière, da Aliança Francesa, em todas as sextas-feiras de novembro (dias 7, 14, 21 e 28), sempre às 19h30. Sérgio integrou a equipe de criação do IHAC em 2008, tendo atuado também como Professor Titular e exercido o cargo de diretor do instituto entre os anos de 2010 e 2013.

O projeto foi desenvolvido no âmbito do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Contemporaneidade, Imaginário e Teatralidade, da Escola de Teatro da UFBA. Dada a geopolítica atual, o produto artístico busca possibilitar reflexões e discussões relevantes, dialogando com temas presentes em diversos componentes curriculares do IHAC.

Os ingressos, no valor de R$20,00 (meia-entrada), podem ser adquiridos na plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro nos dias de apresentação.

SAIBA MAIS

CARTAS DE GAZA é o programa de novembro no Teatro Molière, em Salvador

Um grupo de jovens decididos a fazer teatro encontra, num pequeno poema sobre a Palestina, a inspiração para escrever uma peça teatral com um tema importante e contemporâneo. É assim que tem início o espetáculo Cartas de Gaza, programado para o mês de novembro do Teatro Molière, que fica na Aliança Francesa de Salvador, Bahia.

Com as pesquisas feitas para o espetáculo, o grupo descobre um conjunto de depoimentos de jovens estudantes de teatro da cidade de Gaza. Os depoimentos foram recolhidos pelo Ashtar Theatre Palestine, em 2010, e incluem narrativas sobre os bombardeios promovidos em Gaza pelo Exército de Israel. Essas narrativas tornam-se o eixo principal da encenação que passará então a ser preparada pelo grupo, à vista do público, no palco do Teatro Molière.

Adolescentes contam suas primeiras experiências em meio aos bombardeios

Os relatos comoventes dos estudantes palestinos de teatro versam sobre temas como “bombardeios caindo como uma chuva”, sobre “a noite com suas inquietações” e sobre como “tudo em Gaza chora”. Em forma de cartas, os depoimentos aparecem, na peça do Teatro Molière, intercalados com outros temas relacionados ao conflito do Oriente Médio.

É o caso de um texto raro, em forma de artigo acadêmico, escrito pelo Rei Abdullah, da Jordânia, e publicado em 1947 nos Estados Unidos. É também incluído no roteiro um texto em forma de cordel sobre conceitos de raça, escrito por um dos estudantes do grupo.

No enredo da peça que está sendo construída, os jovens interessados em fazer teatro encontram apoio junto a dois de seus professores, os de Geografia e de Matemática. Com eles, conseguem dados históricos e quantitativos sobre a questão atual da Faixa de Gaza.

Algumas narrativas da psiquiatra Samah Jabr, encontradas no seu livro Sumud em tempos de genocídio e documentos oficiais da ONU servem de base para o texto de uma cena, representando uma entrevista que está sendo gravada pelos jovens, para publicação nas redes sociais.

Os personagens e suas narrativas emocionantes

As toneladas de explosivos lançados sobre o território densamente povoado da Palestina, destruindo casas, templos, escolas e hospitais, o bloqueio da ajuda humanitária e as balas que atingem a multidão faminta em busca de alimento ou em deslocamento forçado, tornam-se matéria prima das emocionantes narrativas dos personagens de Cartas de Gaza.

Colocar em cena as histórias de vida em vez de apenas mencionar os números de mortos, feridos e prisioneiros, que normalmente aparecem na grande imprensa, é uma forma de abordagem humanística de uma catástrofe que ameaça não somente a região onde o genocídio acontece, mas ameaça toda a humanidade, já que as agressões que ali acontecem podem servir de exemplos para invasões e dominações em outros contextos geopolíticos.

Um teatro para discutir as tramas e os dramas da geopolítica contemporânea

Contar as histórias dos habitantes de Gaza é uma forma de destacar sua humanidade, frente a uma ação explícita, continuada e televisionada, de desumanização e de extermínio de um país e de uma cultura, para apropriação de seu território. Isso não é novidade. Ao longo da história, outros genocídios aconteceram. O desafio para os humanistas é encontrar meios para que eles deixem de acontecer.

As ações de eliminação do povo de Gaza dão continuidade ao processo de ocupação do território palestino pelos sionistas, iniciado no final do século dezenove e intensificado a partir da criação de Israel em 1948.

O que vem ocorrendo em Gaza, inclusive contrariando resoluções e leis internacionais, está em desacordo com as tentativas, infrutíferas, de negociação de paz no âmbito da ONU. Os ataques sionistas em todo o território da Palestina têm sido cada vez mais intensos desde 1948, apesar de uma incipiente resistência popular armada, criada em Gaza em 1987. O chamado “plano de paz” arquitetado pelos Estados Unidos não acabou com os ataques de Israel à população civil.

Com o espetáculo Cartas de Gaza, os artistas de teatro lidam com um dos temas mais difíceis de se abordar num tempo curto, em forma estética. Os jovens personagens sabem que não caberá na peça tudo o que já existe de informação sobre o tema. Porém, as imagens, as palavras, os sons e muitas emoções irão aparecer esteticamente articulados na obra de arte cênica que estão criando, para o espectador compor sua própria visão da ocupação da Palestina pelos sionistas do Estado de Israel.   

O espetáculo tem uma forma que revela a pesquisa desenvolvida  

O tratamento teatral dado ao tema do genocídio em Gaza faz parte da linha de pesquisa do diretor do espetáculo, Sergio Farias, integrante do GIPE-CIT, da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Atuante do campo do Teatro-Educação, o Professor sempre inclui, na sua metodologia de encenação, a realização de oficinas com os atuantes, destinadas à preparação corporal e vocal, à análise de texto e à improvisação, para que posteriormente seja realizada a escritura do roteiro e a composição dos personagens da peça a ser encenada.

Sergio Farias concluiu seu Doutorado em Teatro na USP e atuou na UFBA como professor pesquisador na Faculdade de Educação (1976-2008), como Titular de Didática e Metodologia de Ensino na Escola de Teatro (1988-2011), onde coordenou a Pós- Graduação, e no IHAC – Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (2008-2013), integrando sua equipe de criação e sendo seu Diretor de 2010 a 2013.

Um grande elenco para um grande desafio

Os atuantes que estarão no palco do Teatro Molière em novembro, encenando Cartas de Gaza, vêm se preparando desde junho, quando teve início, na UFBA, a oficina de teatro para treinamentos e para apresentação da metodologia cênica.

A metodologia está baseada em três capacidades inerentes ao ofício dos atores: a dilatação, a irradiação e a pulsação. Segundo o diretor Sergio Farias, são essas as condições básicas, fundamentais para um atuante alcançar um ritmo adequado para a comunicação e a experiência estética com o público no teatro. Participantes da Oficina compõem o elenco de Cartas de Gaza, juntamente com atores integrantes do Grupo TECA de Teatro, tendo como convidados especiais Gésner Braga e Cristiane Cândido, em papeis de destaque, completando o elenco de 25 atuantes.

A composição do texto completo do espetáculo ficou a cargo de Camilo Fróes e a trilha sonora é composta por Luciano Bahia.

O espetáculo integra o Projeto 1,2,3 SALVE TODOS, do Grupo TECA em 2025. O Projeto foi criado a partir de encontros do grupo com artistas convidados para lerem textos voltados para questões da juventude e para temas contemporâneos do campo da Educação. Cartas de Gaza é o terceiro espetáculo do projeto. Antes dele já estrearam Ensinando a Transgredir, em setembro, e A Revolta dos Pinguins. Os custos para a montagem dos três espetáculos são cobertos pelos próprios artistas envolvidos, por isso é muito importante a venda dos ingressos.

A mediação cultural no campo do teatro-educação

Tratando-se de uma obra de arte inserida no campo do Teatro-Educação, contatos com a produção do Espetáculo podem ser mantidos pelo e-mail cartasdegaza@gmail.com para organização da ida de grupos de estudantes e professores ao teatro. Encontros com as turmas interessadas, nas suas próprias instituições educativas, antes ou depois da ida ao teatro, também podem ser agendados com o diretor pelo e-mail scbfar@gmail.com.

Trata-se de uma atividade de Ação e Mediação Cultural, tendo em vista não somente a divulgação do espetáculo e de seu tema, o qual é importantíssimo na contemporaneidade, mas também tendo em vista a formação de plateias para o teatro.

O espetáculo Cartas de Gaza será apresentado às sextas-feiras, nos dias 7, 14, 21 e 28 de novembro às 19h30 e os ingressos nos valores de R$20,00 (meia) e R$40,00 (inteira) estão à venda na plataforma SYMPLA e na bilheteria do Teatro Molière, aberta nos dias do espetáculo, a partir das 18h30.

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