Centenário da Festa de Iemanjá será celebrado com projeções poéticas em rios de Salvador

Centenário da Festa de Iemanjá será celebrado com projeções poéticas em rios de Salvador

Espetáculo de luz  acontece na abertura dos festejos de Iemanjá e do Festival Oferendas e provoca sobre o cuidado com a natureza e a vida dos rios através da arte, poesia e da tecnologia.

Como parte da programação da Festa de Iemanjá, os artistas Mozart Santos, Laura Castro e Rodrigo Carvalho realizam no dia 01 de fevereiro, a partir das 18h, uma performance inédita com projeções de palavras e poemas em escala humana, nas margens do Rio Lucaia, no bairro do Rio Vermelho. Como parte da abertura do Festival Oferendas, o projeto “Molhando as palavras na boca do Rio” traz uma reflexão sobre o meio ambiente e os rios urbanos da cidade, através de uma poesia visual que mistura arte com tecnologia. A apresentação é completamente gratuita e aberta ao público.

Dividida em três etapas, a exibição explora versos e perguntas da artista e poeta Laura Castro transformados em “palavras-lúmens” e “molhados” no encontro do rio com o mar, através das projeções do VJ e artista transmídia Mozart Santos. A trilha sonora é assinada pelo artista e pesquisador Rodrigo Carvalho, que também escreverá versos e palavras para as projeções.

Sobre a performance

Com um ato de Licença, a apresentação inicia com frases, palavras e fotos de marisqueiras do Largo da Mariquita, projetadas com depoimentos de pescadores e uma trilha sonora, em um ambiente imersivo de memórias, paisagens urbanas e elementos da natureza.

Em Lamento, segunda parte do espetáculo, um barco encalhado em uma duna, e equipado com projetores e luzes de led, na boca do Rio Lucaia, projeta nas águas que saem debaixo do pontilhão, elementos que falam sobre cuidado, coexistência e convívio com o rio.

A exibição encerra com Esperança, quando os projetores e luzes serão desligados para uma apresentação com toque de percussão e cantigas que seguem em cortejo até um grupo de artistas na Pedra da Concha, onde serão projetadas as últimas frases do evento. De lá, o barco sairá com as oferendas e bons desejos para os rios, abrindo oficialmente o retorno do Festival Oferendas ao Lálá Casa de Arte, na Rua da Paciência.

“Essa apresentação na abertura do Oferendas é muito importante para dar visibilidade a esse rio, o Lucaia, nosso “Rio Vermelho”. Poucas pessoas sabem dele, o notam e, na Festa de Iemanjá, ele também não é saudado. Será muito grandioso levar um olhar de cuidado e respeito para esse Rio que deságua nesse mar tão inspirador. É uma grande potência esta semântica e este encontro Rio – Mar, com Oxum e Iemanjá”, comenta Luiz Ricardo Dantas, idealizador do Festival Oferendas.

Há onze anos, o Festival Oferendas acontece, no Rio Vermelho, como parte das celebrações para Yemanjá no dia 2 de fevereiro. Num palco voltado para a rua, na varanda da casa onde hoje se encontra o Lálá Casa de Arte, artistas independentes de todo Brasil se apresentam, numa festa colaborativa e agregadora.

A primeira edição do projeto Molhando as Palavras, em Salvador é o resultado do encontro de pesquisas do artista pernambucano Mozart Santos e suas experiências de intervenções urbanas com arte e tecnologia e dos artistas pesquisadores Rodrigo Carvalho e Laura Castro, do grupo de experimentação artística ECOARTE/UFBA. 

“Venho de Recife, cidade repleta de rios. Minha infância inteira foi atravessando pontes e vendo os rios passando por baixo de meus pés. Além disso, meu pai é marinheiro e sempre voltava pra casa com histórias do mar. Essas histórias fazem parte do meu imaginário de artista e foi com essa inspiração que surgiu a primeira edição do “Molhando as Palavras”, em Recife. Dentro de uma baiteira, com um laser e um projetor de 5 mil lumens, colocamos as palavras do poeta João Cabral de Melo Neto em contato com o rio que inspirou o poeta a criar o “Cão Sem Plumas”, conta o artista e VJ pernambucano, Mozart Santos.

A arte  sempre cumpre papéis nos rituais que nos ligam ao entorno, a natureza e tudo aquilo que nos cerca. O Molhando as Palavras surgiu com o propósito de cultivar essa reflexão”, completa o artista.

Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco, Mozart Santos acredita que é possível mudar a realidade com a qual se está desconfortável através de boas ideias, vontade e capricho, trazendo mudanças sólidas e robustas na forma como o cidadão vê e usa a cidade.

Inventor engenhoso movido pelo inconformismo, em 2020 co-fundou o Projetemos, grupo de VJs do mundo inteiro que mobilizou a população em uma ação coordenada de conscientização e informação contra a Pandemia do novo Coronavírus. O projeto logo se tornou também, uma ferramenta essencial para a difusão da arte, da cultura e da tecnologia.

Com diversas mostras de características multitecnológicas, atuou como coordenador do Mamam no Pátio, tendo participado como artista/educador de trabalho de intercâmbio entre Brasil e Holanda no Het Domain Museum, cujo projeto ganhou prêmio de menção honrosa do Ministério da Cultura em 2008. Em 2013 participou do projeto Circuito Abierto, residência artística Brasil / Espanha.

Poeta, performer e professora no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Laura Castro atua como pesquisadora do grupo ECOARTE, nas linhas de pesquisa “Poéticas da água” e “Arte e saberes ancestrais”. Seus interesses de pesquisa atravessam a literatura em campo ampliado e as diferentes possibilidades materiais da escrita. Atualmente seu trabalho é fortemente influenciado pelas epistemologias e ontologias dos povos originários do Brasil, suas poéticas e estéticas de vida, nas busca de, nesta interface ética-estética-bio-política, avistar mundos no mundo. É Yawô de Yemanjá no Ilê Axé Aramefá Odé Ilê.

VJ, poeta e artista audiovisual, Rodrigo Carvalho atua em projetos de cinema, artes digitais e literatura contemporânea, realizando documentários, performances audiovisuais e videopoemas, também é discente do Bacharelado interdisciplinar em Artes com concentração em Cinema e Audiovisual – IHAC/UFBA, onde integra o grupo ECOARTE na linha de pesquisa Poéticas das águas.