Pesquisadora do Pós-Cultura participa de mobilização para que a Universidade de Harvard devolva crânio de um Malê para a Bahia
Vencedora do Prêmio Capes de Tese na Área Interdisciplinar em 2021 e atualmente em estágio de pós-doutoramento no Pós-Cultura, a pesquisadora Hannah Bellini integra uma rede formada por professores da UFBA que, junto à comunidade muçulmana baiana, busca um gesto de reparação da Universidade de Harvard. Em resposta a acusações históricas de racismo e colonialismo, a Universidade estadunidense instaurou uma comissão para investigar a coleção de restos humanos de indígenas e africanos ainda custodiados em suas dependências e estudar a possibilidade de devolvê-los para seus descendentes ou suas comunidades de origem. De acordo com relatório publicado pela Universidade em setembro de 2022, entre os restos mortais sob sua guarda está o crânio de um homem que alegadamente participou da famosa Revolta dos Malês, protagonizada por muçulmanos escravizados na cidade de Salvador em janeiro de 1835. Ainda segundo o relatório, o crânio seria de um homem nigeriano, da nação iorubá.
Assim foi iniciada uma campanha para que o crânio seja repatriado e possa receber um ritual fúnebre islâmico adequado. Segundo a entrevista de Hannah Bellini à Folha de São Paulo no dia 19 de novembro, “não adianta trazer o crânio para ser exposto em um museu’. Seria trair o propósito da campanha. Queremos oferecer um ritual fúnebre, que foi negado ao corpo naquela época”. Uma requisição formal já foi encaminhada e aguarda a resposta de Harvard. A campanha ganhou notoriedade, sendo noticiada pelos principais veículos de comunicação nacionais, angariando visibilidade também na cobertura internacional. A movimentação coloca os direitos culturais e religiosos dos povos historicamente subalternizados no centro do debate acadêmico, e chama a atenção para a presença do racismo e do colonialismo no cerne da produção do conhecimento. A repatriação dessa relíquia marca um processo de reparação histórica especialmente significativo, dada o papel dos africanos islamizados na resistência contra a escravidão e o projeto de repressão da matriz religiosa que sucedeu a Revolta dos Malês.
Saiba mais sobre o caso:
Muçulmanos querem que Harvard devolva crânio de personagem da Revolta dos Malês, matéria da Folha de São Paulo
Descendentes na Bahia se mobilizam para trazer de Harvard crânio de escravo da Revolta dos Malês, matéria de O Estado de São Paulo
Quer saber como a ciência explorou pessoas negras? Pergunte a Harvard, coluna de Carlos da Silva Jr. no UOL
Brazilian Muslims demand Harvard return skull of slave who fought in uprising, matéria do Middle East Eye