Lideranças indígenas do Vale do Javari visitam o IHAC
Kora Kanamary e Paulo Kenampa Marubo, duas grandes lideranças do movimento indígena do Vale do Javari (Amazonas, Oeste da Amazônia brasileira), promoveram uma palestra dialogo para o componente Cultura e Artes Populares, ministrado pelo professor Felipe Milanez, no Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades e no Pós-Cultura, no IHAC, na última quinta-feira, dia 15 de setembro. Kora e Kenampa estiveram em Salvador para uma atividade de direitos humanos, em razão da violência crescente na Amazônia.
Kenampa é coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização que tem liderado a fiscalização e defensa da terra indígena, articulando representações dos seis povos indígena do Vale do Javari, bem como os coletivos que vivem em isolamento voluntário. Bruno Pereira, o grande indigenista da Funai assassinado com o jornalista Dom Phillips, no dia 5 de junho, integrava a Univaja depois de ter sofrido perseguição pela Funai. Kora era amigo próximo também de Bruno, e ambos haviam sido entrevistados por Dom. O bárbaro caso teve grande repercussão, e a Polícia Federal ainda investiga a participação de mandantes e o envolvimento do organizações criminosas. Em um momento de grande emoção, Kora prestou homenagem às viuvas de Bruno Pereira, Beatriz de Almeida Matos, e de Dom Philips, Alessandra Sampaio, que atualmente vive em Salvador, cantando a linda música de seu povo, entoada por Bruno Pereira em um video que teve grande circulação. Kora e Kenampa estão ameaçados de morte por lutarem em defesa do território.
Kanamary e Marubo trataram sobre alguns dos desafios que eles e seus povos enfrentam e enfrentaram, aspectos culturais e críticas ao atual Governo, afirmando a violência crescente nos últimos anos e a expansão do narcotráfico. Relataram como agentes de saúde infectados com Covid-19, enviados às aldeias para a vacinação da gripe, levaram o Covid-19 e espalharam a doença. Kora recourdou a luta de sua esposa, Luzia Kanamary, que uma vez entrevistada sobre a luta de seu povo para sobreviver ao Covid-19, disse: “Graças a Deus, nós temos pajés”.
As lideranças contaram suas experiências dos modos de autodefesa coletiva, as estratégias políticas sofisticadas que desenvolveram para enfrentar um momento de tanta adversidade, enfatizando que a maior participação nas esferas políticas e no poder público, somados à educação diferenciada, são as maiores armas que os indígenas têm hoje em dia contra o ecocídio e o genocídio.
Por fim, Kora contou histórias do uso da planta sagrada ayahuasca, chamada Rahmi, fechando o encontro com os/as estudantes com um lindo canto de festa.
Nota por Aline Gallo, estudante do componente, e Felipe Milanez.