IHAC recebe pesquisadoras indígenas como visitantes em projeto de pesquisa internacional

IHAC recebe pesquisadoras indígenas como visitantes em projeto de pesquisa internacional

Seis pesquisadoras indígenas de diferentes povos, três do nordeste e três da Amazonia,  são as novas pesquisadoras indígenas no IHAC, através do projeto de pesquisa “Visões indígenas para imaginar direitos, envolvimento e um mundo sustentável, uma parceria com a Universidade de Sussex, da Inglaterra e executado pela Fapex (Fundação de apoio à pesquisa e extensão). Reconhecidas lideranças tradicionais e mestras de conhecimentos, suas pesquisas imaginam futuros coletivos mais justos e sustentáveis a partir de suas visões, da ancestralidade, do aprendizado que tiveram em suas comunidades e de seus povos, de forma a contribuir para a construção de uma nova perspectiva de vida após as tragedias da pandemia e do genocídio. O projeto, que segue a perspectiva interdisciplinar das ecologias políticas e humanidades ambientais da rede https://umoutroceu.ufba.br/, pretende tornar o conjunto dessas narrativas e discussões em um livro, além de mover outras participações dentro da Universidade.

Coordenado pelo professor Felipe Milanez, do IHAC/UFBA, em conjunto com os pesquisadores Mary Menton e Evan Killick, de Sussex, e Jurema Machado, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a metodologia do trabalho se desenvolve de maneira colaborativa, descolonial e não-extrativista, onde a produção de conhecimento está pautada no diálogo e troca de saberes entre as pesquisadoras visitantes e o grupo de professoras e professores que integram o projeto. Os professores Leonardo Nascimento e Paulo Fonseca, do Bacharelado, Interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação, também pesquisadores do projeto, trazem importantes contribuições que estão a desenvolver no Laboratório de Humanidades Digitais. Júlia Mota Brito, estudante do BI de Humanidades no IHAC e que integra também a rede Um Outro Céu, é pesquisadora bolsista no projeto. E, como pesquisadora colaboradora, Maíra Kubík Mano, que é pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM) e professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo, da UFBA. Essa produção coletiva de conhecimento busca, sobretudo, apoiar as pesquisadoras indígenas em seus trabalhos, produções individuais, e na construção de memórias coletivas junto de suas comunidades.

Diante do contexto de epidemia global do COVID-19 muitas comunidades indígenas sofreram com a aceleração de uma das facetas da violência e violação de seus direitos: o epistemicídio. Uma tragédia que acompanhou o genocidio dos povos indígenas e o ecocídio ambiental intensificado nos ataques contra a democracia e condutas criminosas diante da pandemia, que chegou a ser classificada como uma “oportunidade” para o desmonte da legislação ambiental e dos direitos dos povos indígenas. A destruição de seus conhecimentos e saberes é acelerada com a morte de anciãos das comunidades e lideranças indígenas, a “queima das bibliotecas”. Nesse sentido, o projeto visa contribuir na construção e documentação desses saberes, diante do luto que vivenciaram as pesquisadoras. Assim, o projeto traz como foco principal as visões dessas lideranças indígenas para um futuro ecologicamente sustentável, digno e justo, para se imaginar alternativas ao desenvolvimento liberal e para a conceptualização de outros sistemas de vida que respeitem os direitos dos povos indígenas e da natureza.

A seguir uma breve biografia das pesquisadoras e pesquisador participantes do projeto e visitantes no IHAC entre os meses de agosto e outubro de 2021:

Elisa Pankararu

Elisa Pankararu é liderança indígena Pankararu. Formada em Letras pela Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, desenvolveu sua pesquisa de Mestrado na Universidade Federal de Pernambuco com foco nas mulheres lideranças indígenas, tornando-se referência na discussão do feminismo comunitário e movimento de mulheres indígenas. É coordenadora do Departamento de Mulheres da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – Apoinme.

Cacica Tônkyré Akrãtikatêjê (Kátia Silene da Costa Valdenilson)

Tônkyré Akrãtikatêjê, registrada Kátia Silene da Costa Valdenilson, é a primeira mulher cacica do povo indígena Gavião, na Terra Indígena Mãe Maria, liderando a aldeia Akrãtikatêjê. Filha do histórico líder cacique Payaré, e neta de Rõnõre, mais antiga anciã do povo Gavião.  É formada em Pedagogia pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, em Marabá.

Maura Rosa Vieira Titiá

Maura Rosa Vieira Titiá é anciã do povo Pataxó Hãhãhãi, na Terra Indígena Caramuru-Paraguassu. É uma grande liderança indígena para seu povo, por sua resistência na luta pela terra e pelo fortalecimento da cultura e dos saberes tradicionais, como o conhecimento das plantas e ervas medicinais e a preservação das sementes crioulas.

Fabrício Vieira de Jesus Titiá

Fabrício Vieira de Jesus Titiá é neto de Maura, com quem desenvolve em conjunto esta pesquisa, e também liderança indígena do povo Pataxó Hãhãhãi. É Comunicador indígena na rede somos Hãhãhãi, parte do grupo de comunicação da juventude indígena do Nordeste da ONG Thydewás e membro do Projeto Papo de índio, que discute a pauta de gênero e sexualidade nas comunidades indígenas. Fabrício irá pesquisar junto de sua avó, dona Maura.

Mayalú Kokometi Waurá Txucarramãe

Mayalú Kokometi Waurá Txucarramãe é liderança indígena da juventude Mebêngokrê-Kayapó no estado do Mato Grosso, filha de Megaron Txucarramãe e neta do cacique Raoni. Formada em Geografia, pela Universidade do Estado do Mato Grosso, hoje atua como secretária executiva do Conselho Distrital de Saúde Indígena Kaiapó do Mato Grosso, do Distrito Sanitário Especial Indígena-Kayapó/MT.

Raquel da Silva Alves

Raquel da Silva Alves é liderança da juventude indígena do povo Jenipapo-Kanindé, neta da grande cacica Pequena, uma histórica liderança dos povos indígenas no nordeste. Formada em Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, integrou a equipe de bolsistas do Projeto Um Outro Céu. Participou do Projeto ECOWOMEN – Paz, Educação Ambiental e Consciência Ecológica (PEACE) e Movimento Universidade Arte Transformática (MUDART) em cooperação com a Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil e Universidade Católica do Salvador (UCSAL)

Watatakalu Yawalapiti

Watatakalu Yawalapiti é artesã, ativista e liderança indígena do povo indigena Yawalapiti do Estado do Mato Grosso. Filha do histórico lider xinguano Pirakuman, falecido em 2016, é filha de Iamoni e sobrinha do cacique Aritana, ela e ele falecida/o por Covid-19. É coordenadora da ATIX Mulher e Membra do Movimento Mulheres do Xingu.