Curso aborda a psicofísica

O professor Hélio Silva Campos ministrará o curso A realidade psicofísica na contemporaneidade, no Instituto de Física da UFBA, na sala 510, no Campus de Ondina. O curso ocorre sempre nas terças-feiras, das 16 às 18h, no período de 13 de abril a 15 de junho. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas com o professor, na primeira aula.

A atividade foi aprovada como projeto de extensão pela Congregação Ampliada do IHAC. Os participantes receberão certificados. A carga horária total é de 20 horas. Confira abaixo o programa do curso.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS

CURSO: A REALIDADE PSICOFÍSICA NA CONTEMPORANEIDADE

Prof. HELIO SILVA CAMPOS (hscampos@ufba.br)

Apresentação:

O ser humano, originário da indescritível complexidade da natureza busca, instintivamente, apreender o significado da sua existência e do mundo como um todo. Na verdade, uma maneira de expressar uma das ‘grandes questões’: o que é a realidade?

Vivemos num tempo em que o processo de geração do conhecimento, cada vez mais sofisticado e específico, tem induzido uma miríade de descrições da realidade nas quais o observador – o ser humano – usualmente não considera a interrelação entre as ocorrências do evento em si e o seu contexto. Essa é uma limitação que acarreta dificuldades para se assimilar o aspecto teleológico – o significado -, presente em cada ocorrência. Isso pode explicar a incapacidade da maioria das pessoas de correlacionar acontecimentos externos às suas vivências internas restringindo, assim, a compreensão de suas experiências de vida.

Nas sociedades aborígines é comum formar uma idéia da realidade combinando percepções sobre as ocorrências do mundo exterior (físico) e conteúdos do mundo interior (psíquico) e, desta maneira, obtém-se uma miríade de expressões e figuras míticas. Os antigos alquimistas projetavam essa conjunção na opus alchemicum, intuindo que, após as etapas da experimentação, alcançariam o almejado conhecimento: o lapis philosophorum. Provavelmente, essa herança alquímica foi assimilada por Francis Bacon em seu empirismo e por Galileu Galilei ao estabelecer as bases da metodologia da ciência moderna. Com o determinismo, fundamento nas idéias de René Descartes, o poder da razão sobrepôs-se às inferências de ordem subjetiva, resultando em descrições claras e distintas da realidade, pautadas na lógica e na objetividade dos eventos observados. Em conseqüência, a acalentada conjunção do mundo externo (físico) com o mundo interno (psíquico), foi relegada à seara filosófica ou metafísica.

No início do século XX, esse panorama foi profundamente alterado com duas revoluções científicas que resgataram a subjetividade na formulação do conhecimento: a revolução da Física Quântica e a da Psicologia.  Elas evidenciaram a imperiosa necessidade de envolver o observador como o ser pensante que interpreta eventos cotidianamente vivenciados.

A revelação desse ‘novo mundo físico’ – o reino das ‘partículas’ quânticas- pode ser vista como uma lição da natureza que levou os pioneiros da física quântica a resgatarem a subjetividade intrínseca a todas as expressões da natureza. Educados sob uma visão continuísta de mundo, esses cientistas tiveram dificuldades de compatibilizar, em um formalismo quântico operacional, noções como descontinuidade, acausalidade, complementaridade, interdependência, inseparabilidade e, em especial, a incerteza reinante nesse micromundo das partículas.

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O horizonte desvelado pela física quântica reafirmou o papel crucial da subjetividade – no caso, a consciência – na apreensão do mundo físico. Este aspecto foi observado especialmente por Wolfgang Pauli, prêmio Nobel em Física de 1945.  Pauli foi um ser humano muito criativo e um físico brilhante, que contribuiu significativamente para a formalização da teoria quântica, Pauli logrou conhecer, em 1931, o médico suíço Carl Gustav Jung e sua teoria psicológica. O interesse de Pauli pela abordagem psicológica o levou a observar que ‘assim como a matéria tem seu lado subjetivo, a mente possui seu lado objetivo, de modo que ambas são dotadas de camadas objetiva e subjetiva, logo, elas são complementares’. Imbuído desta concepção, Pauli postulou uma abordagem mais contextual da realidade na forma de um ‘princípio psicofísico’, ou seja, envolvendo conceitos psíquicos e quânticos.

Durante várias décadas, esta desejada abordagem psicofísica da realidade sequer foi referida no âmbito da comunidade acadêmica, contudo, nos últimos vinte anos, vários estudiosos, inclusive físicos, têm se dedicado a esta temática. Entre eles, Roger Penrose, Brian Josephson (prêmio Nobel de Física de 1973), Amit Goswami, Bernard Carr, Dean Radin, Fred Alan Wolf, Victor Mansfield, Henry Stapp os quais, desenvolvem, independente e diferentemente, suas idéias em prol de uma conexão mente-matéria. O foco principal dessas investidas é a interação entre o objeto do mundo exterior e a consciência do observador com o propósito de elaborar uma interpretação multidisciplinar envolvendo, ainda, e.g., a teoria da informação e da computação, a psicologia, sistemas biológicos e a dinâmica do cérebro.

Neste curso, retomamos a noção da ‘realidade psicofísica’ sugerida por Wolfgang Pauli. Aludimos à percepção da realidade comungada em sociedades aborígenes, ao significado do unus mundus dos alquimistas, a formulação da ciência moderna, ao comportamento do micro mundo das partículas, em especial, aquelas de natureza quântica e, por fim, os conceitos fundamentais da teoria junguiana. Com esta base, exploramos o conceito da irracionalidade da realidade subjacente à nossa apreensão do que significa energia, espaço, tempo, mente, matéria, opostos complementares, não localidade e, ainda, a dualidade onda/partícula da luz e a relação inconsciente/consciência.

É inestimável o valor do estudo acadêmico, entretanto, a maneira pela qual o ser humano se expressa no mundo ou mesmo o exercício de sua atividade depende, significativamente, da relação que o mesmo tem consigo próprio. É a psique, o elemento motivador e o realizador de tudo, a fonte primordial do nosso ser, que nos alimenta e nos transforma enquanto interagimos com o mundo externo, sensorial. Portanto, qualquer tentativa para correlacionar ocorrências de natureza física e psíquica, certamente viabilizará uma interpretação mais próxima de tudo que ocorre conosco. Tal proceder confere uma perspectiva mais abrangente para a evolução do conhecimento tal que possamos articular uma nova visão de mundo.

PROGRAMA  DE   ESTUDOS

1. Antigas Cosmovisões: Mesopotâmica, Egípcia, Indiana, Chinesa, Grega, Bíblica, Africana e Indígena.

2. Herança Alquímica: Unus Mundus, Lápis Philosophorum, Transmutação, Ouroborus.

3. A Ciência Moderna: Legado da Grécia Antiga, Tecido da Ciência Moderna, Base Filosófica,

Determinismo; Materialismo Reducionista; Natureza do Conhecimento Científico.

4.  O Mundo Microscópico e a Não-Linearidade:

– Caos e Indeterminismo; Ordem e Desordem; Fractais, Irreversibilidade e Entropia;

– Flecha do Tempo Termodinâmica; Estruturas Dissipativas; Caos e Consciência.

5. A Teoria Quântica: o Reino das Probabilidades.

– Descontinuidade; Incerteza; Complementaridade; A causalidade;

– Inseparabilidade; Mundo Pleno-potencial.

6. A Teoria Psicológica de Carl Jung: a Psique e sua Estrutura.

– Consciência e Inconsciente; Funções Psíquicas; Arquétipos;

– Entropia; Energia Psíquica; Conservação da Energia.

7. Ciência, Consciência e Paranormalidade: o Conhecimento Científico; o Ato de Observar a Realidade;

– Mundo Extra-Sensorial; Eventos Acausais; Testando a Paranormalidade

8. O Princípio da Sincronicidade de Jung:

– Unicidade; Serialidade e Sincronismo; o Significado; Eventos Sincronísticos;

– Paranormalidade e Sincronicidade; Implicações da Sincronicidade.

9. Inferências da Alquimia Hermética no Estudo da Psique.

– A Controvérsia Kepler x Fludd; Alquimia Neoplatonica e Hermética; Espírito e Matéria.

10. A Filosofia de Wolfgang Pauli:

– A Realidade ‘Velada’; a Irracionalidade da Realidade; o Princípio Psicofísico.

11. Uma Correlação Psicofísica: Conceitos da Psicologia Junguiana e da Física Moderna.

Bibliografia:

1.  ASIMOV, Isaac – Asimov Explica, Ed. Francisco Alves: Rio de Janeiro, 1986.

2.  BOTAS, Paulo Cezar Loureiro – Carne do Sagrado, EDUNARA: Rio de Janeiro, Koinonia/Vozes: Petrópolis, 1996.

3.  CAMPOS, Helio Silva – Em Busca do Conhecimento, EDUFBA: Salvador, 2009.

4.  CHASSOT, Attico – A Ciência Através dos Tempos, Coleção Polêmica, Ed. Moderna: São Paulo, 1995.

5.  BOHM, David – A Totalidade e a Ordem Implicada, Ed. Cultrix: São Paulo, 1992.

6. HALL, Calvin S. e Vernon J. NORDBY – Introdução à Psicologia Junguiana, Ed. Cultrix: São Paulo, 1992

7.  JECUPÉ, Kaká Werá – A Terra dos Mil Povos, Ed. Fundação Peirópolis: São Paulo, 2000.

8.  JUNG, Carl Gustav – A Energia Psíquica, Ed. Vozes: Petrópolis, 1990.

9.  JUNG, Carl Gustav –  Sincronicidade, Ed. Vozes: Petrópolis, 1991.

10.  SILVEIRA, Nise da – JUNG, Vida e Obra, Ed. Paz e Terra: São Paulo, 1988.

Prof. do IHAC responsável pelo Curso – Sergio Farias