‘Eu Sou a Tempestade’ estreia nesta quinta às 20h no Teatro Martim Gonçalves

‘Eu Sou a Tempestade’ estreia nesta quinta às 20h no Teatro Martim Gonçalves

O homem é o lobo do homem é uma frase tornada célebre pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, em Leviatã, que significa que o homem é o maior inimigo do próprio homem. Em “Eu sou a Tempestade”, espetáculo de formatura em artes cênicas da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (ETUFBA), o dramaturgo baiano Gildon Oliveira compõe um texto dramático que aborda temas do universo de William Shakespeare para retratar que A criatura é o lobo da criatura, parafraseando Hobbes.

Eu sou a Tempestade estreia no próximo dia 13 de dezembro, no Teatro Martim Gonçalves, às 20h. Em cartaz de quinta à domingo, até 23 de dezembro, o espetáculo tem direção de Elisa Mendes, que convidou Gildon Oliveira para explorar a estética gótica e a obra shakespeariana. Dramaturgo e diretora já trabalharam juntos no infantil “Olorum” e no monólogo “Ave de areia“.

Personagens, falas emblemáticas e situações das obras Romeu e Julieta; Titus Andrônicus; Macbeth; Antônio e Cleópatra; Hamlet; Rei Lear; A Tempestade ganham releituras contemporâneas, tornando o espetáculo em uma crítica político-social. “Da mesma forma o gótico é explorado para além de uma estética, investimos na criação de uma atmosfera que dá unidade às múltiplas situações apresentadas, em que paira uma ameaça de transformação a partir das ações de uma ‘criatura’”, explica o dramaturgo.

Ser ou não ser? Neste tempo de dúvida eis aí uma grande questão” , “… dissecar os conflitos da natureza explorando tudo o que tem nome … E denominar é de certa forma conhecer e conhecer assusta”, “ Há um nome que batiza a mudança que transformou tudo em incerteza. Para nós, ela atende por: criatura …”. São alguns trechos que dão corpo e voz a complexidade dos debates levantados na montagem: questões raciais, desigualdades sociais, sexualidades, segurança, etc..

Oliveira explica que na dramaturgia existe o propósito de provocar uma inquietação e a partir disso uma possível discussão sobre mudanças, transformações, situações que se instalam e deixam evidentes os lugares de privilégios e os lugares de subalternidades que podemos ocupar. “A inspiração e as referências vindas da obra de Shakespeare permite explorar um ser fragmentado, que se fragiliza na tentativa de entender a si e o que o circunda”, complementa.

A criatura não se define como uma única coisa, ou forma, mas como uma presença que se instala e provoca modificações. Para alguns, ao menos inicialmente, boas mudanças, para outros não. Criatura 04 diz: “As preocupações eram outras. Para os que serviam: se o trabalho estava adequado, se estava do agrado. Para os que eram servidos: a hora em que seriam atendidos e se a taça estaria sempre cheia”. Criatura 03. “Queria poder ter aproveitado mais”. Criatura 04. “Tinham muito o que comemorar. Regalias também são conquistas!”

A dramaturgia foi escrita de forma participativa com os formandos, na tentativa de encontrar o denominador comum a todos. Ter um autor “próximo e vivo” – palavras de Elisa Mendes – permite uma troca de impressões e adequações do texto para a encenação. A direção de Elisa Mendes para Eu Sou a Tempestade foi uma escolha que partiu dos alunos, assim como a do dramaturgo.

“Na nossa história são apresentadas várias situações que refletem a ideia de que existe um povo dominado por uma criatura, que é uma grande ameaça, cerceadora das liberdades, que oprime e, por conseguinte, revela as sombras de todos nós. É importante pontuar que, essa criatura não surge do nada. Na verdade, nós a alimentamos. Por isso, são todos chamados de criatura. São parte dela. Tudo o que agora tememos, ajudamos a construir”, especifica a diretora.

Mendes realça que o mote da criatura serve para refletir o contexto atual brasileiro. “O crescimento dessa direita tão ferrenha, com ideias opressoras. Não só no Brasil. É um olhar sobre o nosso tempo. Por exemplo, o final foi escrito após as eleições de 2018. Temos uma cena que simboliza um pouco a sensação de estarmos submersos, um pouco à deriva, inspirada nos naufrágios de A Tempestade”, reforça a diretora.

Para a formanda Clarrisa Gonçalves, Eu sou a Tempestade é um ato/arte político. “Em si, o fazer teatral já é um ato de resistência e exige resiliência. O espetáculo está sendo montado para discutirmos o lugar onde nos encontramos. Questionamos várias temáticas sociais – preconceitos, machismo, misoginia, sexismo, etc. -, o que nós fizemos enquanto indivíduos, considerando nossas ações e inclusive omissões, para que essa configuração política se estabelecesse?”, realça.

Além da estética gótica inspirar a dramaturgia, ela serviu de base para a visualidade do espetáculo – figurino e maquiagem – desenhada pelo multiartista Agamenon de Abreu. “É uma inspiração, sem a necessidade de querer replicar uma tribo urbana específica. Misturamos elementos góticos com o uso de golas renascentistas, shakespearianas, fazendo ainda uma fusão com o universo romântico e sombrio de Allan Poe”, explica Abreu.

Já o cenário é uma instalação em constante transformação. O vazio, grandes escadas, trincheiras e móveis que circulam e vão evidenciando as discussões sociais, raciais, de sexualidade, entre outras. A parte cenográfica é uma criação da arquiteta Flora Borges e da diretora Elisa Mendes.

Estão em cena Bárbara Laís, Emerson Sant’Anna, Clarissa Gonçalves, Fábio Nascimento, Giovanna Boliveira, Jell Oliveira, Luisa Domingos, Raphael Mascarenhas e Rebeca Oliveira. A preparação dos atores e atrizes ficou a cargo do renomado diretor e ator Harildo Deda. Já a direção de movimento é de João Perene.

Ficha Técnica

Texto – Gildon Oliveira

Direção – Elisa Mendes

Acting Coach – Harildo Déda

Assistentes de direção – Natália Nascimento e Paulinho Machado

Direção de Movimento – João Perene

Elenco – Bárbara Laís Machado, Clarissa Gonçalves, Emerson Sant’anna, Fábio Nascimento, Giovanna Boliveira, Jell Oliveira, Luísa Domingos, Raphael Mascarenhas e Rebeca de Oliveira

Figurino e maquiagem – Agamenon de Abreu

Cenário – Elisa Mendes e Flora Borges

Cenotécnicos – Ademir Fortuna, Reinaldo Costa e Adriano Passos

Direção Musical – Luciano Bahia

Operação de Som – Paulinho Machado

Iluminação – Eduardo Tudella

Operação de Luz – Natália Nascimento

Programação Visual – André Luís Silva

Fotografia para o programa – Ricardo Castro

Fotografias do espetáculo – Diney Araújo

Assessoria de Imprensa – Rafael Brito

Direção de Produção – Guilherme Hunder

Produção Executiva – Quércia Queiroz e Eric Lopes

Produção – Cooxia Coletivo Teatral

 

Realização – Escola de Teatro da UFBA