Pesquisadora lança livro que analisa movimentos contrários à monogamia compulsória

Pesquisadora lança livro que analisa movimentos contrários à monogamia compulsória

imgA pesquisadora Mônica Barbosa lança, na próxima quarta-feira (dia 20 de maio), o livro Poliamor e Relações Livres: do amor à militância contra a monogamia compulsória (Editora Multifoco, selo Plural). O lançamento irá ocorrer às 17h30, na Universidade Federal da Bahia, no auditório do Pavilhão de Aulas I, no campus de Ondina. A obra é fruto de uma dissertação defendida no Mestrado Multidisciplinar e Profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social, da Faculdade de Administração da UFBA, e foi orientada pelo professor Leandro Colling, que assina o prefácio do livro (leia texto completo abaixo). No dia do lançamento, que ainda contará com a exibição do documentário Atras dos olhos, o livro custará 36 reais (apenas em dinheiro). Atividade integra o Maio da Diversidade.

No prefácio, Colling escreve um pouco sobre como foi a sua aproximação com a então mestranda e pergunta por que o livro é importante e precisa ser lido, em especial nos dias atuais. E responde: “A leitura atenta desta obra pode gerar transformações profundas na forma com as pessoas compreendem as suas próprias sexualidades e as das demais. Vivemos em uma sociedade que insiste em explicar as nossas sexualidades pela via da patologia, da naturalização, do destino, da genética, de Deus ou alguma outra entidade transcendental. E isso ocorre inclusive entre aquelas pessoas que se consideram ativistas dos direitos sexuais. E neste ponto o trabalho de Mônica é primoroso, ao nos desvendar como a monogamia foi e continua a ser, de forma violenta, imposta sobre todas as pessoas, independente de qual sejam suas orientações sexuais ou identidades de gênero.”

Colling é coordenador do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS), do qual Mônica também faz parte. O CUS integra o Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, da UFBA.

Serviço
O que: exibição de documentário Atras dos Olhos e lançamento de livro Poliamor e Relações Livres: do amor à militância contra a monogamia compulsória.
Quando: Dia 20 de maio (quarta-feira), às 17h30.
Onde: Auditório do Pavilhão de Aulas I, campus de Ondina, UFBA
Entrada grátis

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Pequenas ações, potentes transformações

Leandro Colling

“Lê, querido, tudo bem? Minha dissertação será publicada pela Editora Multifoco, selo Plural, coordenado pelo Paulo Sérgio, e eu gostaria de saber se você teria condições e interesse em escrever o prefácio. A questão é que o prazo está apertadíssimo. Tenho que entregar tudo a ele até o dia 12 de outubro, para lançarmos ainda em dezembro. Você topa? Para mim seria uma honra e a chave de ouro deste trabalho que realizamos juntos! Bjs”.

Recebi esse e-mail de Mônica Barbosa no final de setembro de 2014 e imediatamente respondi: “Oi amada, claro que topo”. E aceitei prontamente o convite por várias razões que extrapolam, e muito, os afetos recíprocos, como é possível perceber nas mensagens, que passamos a cultivar desde o momento em que nos conhecemos, em uma aula cuja data eu não lembro, mas da experiência jamais esqueci. Eu havia sido convidado para substituir, em apenas duas ocasiões, o meu colega Paulo Miguez em algumas aulas de Cultura e Identidade no Mestrado Multidisciplinar e Profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social, na Universidade Federal da Bahia, onde Mônica desenvolveu, em 2011, a dissertação Movimentos de resistência à monogamia compulsória – a luta por direitos sexuais e afetivos no século XXI, que agora você tem o prazer de ler neste livro.

Eu desenvolvia a minha aula falando dos conceitos de identidade e suas relações com a cultura e, ao final, comecei a pensar as identidades de gênero e as sexualidades também como identidades culturais que não escolhemos livremente, mas que nos são impostas na base de muita violência inclusive antes de nascermos. Como sempre ocorre, nestes momentos o debate ficou acirrado e eis que Mônica, sentada lá no fundo, com voz baixa, pediu a palavra para ajudar em meu raciocínio. Naquele momento, começou a desenvolver algumas reflexões que viriam a ser elaboradas em sua dissertação, sobre o caráter compulsório da monogamia. Depois daquilo, outras pessoas da sala começaram a se pronunciar sobre a hipocrisia das pessoas que se dizem monogâmicas, mas que na realidade não o são, e de que devemos respeitar os homossexuais. Uma senhora deu um depoimento emocionante de como amava seu filho gay que, por ironia do destino, anos depois veio a ser meu namorado.

Resolvi começar esse prefácio desta forma para evidenciar como pequenas ações que realizamos em nosso dia a dia podem ter impactos profundos em nossas subjetividades e nas pessoas com as quais convivemos. O fato de eu e Mônica termos nos encontrado em um mestrado que normalmente não estuda questões caras à sua dissertação produziu transformações em nós, naquela turma e, agora, esperamos, em todas as pessoas que lerão este livro.

E de quais transformações estou falando? Por que este livro é importante e precisa ser lido, em especial nos dias atuais? A leitura atenta desta obra pode gerar transformações profundas na forma com as pessoas compreendem as suas próprias sexualidades e as das demais. Vivemos em uma sociedade que insiste em explicar as nossas sexualidades pela via da patologia, da naturalização, do destino, da genética, de Deus ou alguma outra entidade transcendental. E isso ocorre inclusive entre aquelas pessoas que se consideram ativistas dos direitos sexuais. E neste ponto o trabalho de Mônica é primoroso, ao nos desvendar como a monogamia foi e continua a ser, de forma violenta, imposta sobre todas as pessoas, independente de qual sejam suas orientações sexuais ou identidades de gênero.

E para pensar sobre isso, Mônica analisa o ativismo da Rede de Relações Livres, de Porto Alegre, que mantém pontos de contato e também algumas diferenças entre os demais coletivos que lutam pelo fim da monogamia compulsória pelo mundo, a exemplo do Poliamor.

Em um momento em que grande parte do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) festeja ou ainda luta para ter direito a casar e ter filhos, coletivos como RLI e Poliamor enfrentam problemas inclusive com movimentos LGBT, que em geral consideram as suas pautas como não importantes ou até que promovem um desserviço às lutas por plenos diretos para a sua população. Isso mostra o quanto temos movimentos que se dizem progressistas mas que, a rigor, trabalham com bandeiras alinhadas com a heteronormatividade, outro potente conceito que Mônica utiliza para pensar as questões que a interessam neste livro.

Enfim, este livro é importante por estes motivos que apontei e por mais uma outra infinidade que você poderá perceber, pois a sua proposta não é a de apontar um caminho para que todas as pessoas trilhem, mas para que tenhamos um mundo em que as pessoas possam criar suas vidas de formas mais autônomas, por vias mais singulares e menos homogeneizantes.

Tenham uma ótima e transformadora leitura!

Beijos

Leandro Colling

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