UFBA terá primeiro Cigano Calón de Tradição Circense em um curso de Doutorado no Brasil

UFBA terá primeiro Cigano Calón de Tradição Circense em um curso de Doutorado no Brasil

Fotos: Bárbara Jardim

O curso de Doutorado em Artes Cênicas (PPGAC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), terá entre seus estudantes o primeiro cigano da etnia Calón e de tradição Circense no Brasil. O feito foi alcançado pelo jornalista e multiartista Roi Rogeres Fernandes Filho, oriundo de uma das maiores e mais tradicionais famílias circenses do país, que conta hoje com diversos circos pelo Brasil, dentre esses o Holiday, Miraculous, Las Vegas, Big Brother, Indianápolis, Irmãos Fernandes e Circo do Palhaço Futuca.

O resultado final do processo seletivo do PPGAC foi divulgado nesta quarta-feira (12). Com o anteprojeto de pesquisa “CIGANENSES NU ESPELHO: A Tradição Circense entre os Povos Ciganos Calóns e a sua contribuição para a cultura do Circo no Brasil”, o estudante obteve nota 10 na prova oral e assegurou a aprovação entre os cinco primeiros colocados, de um total de 10 selecionados, se tornando o primeiro doutorando de origem Cigana-Circense no Brasil.

“Apesar de todos os meus familiares Ciganos-Circenses já serem mais do que PHDs nas artes e tradições do Circo, vou em busca desse título concedido por uma Universidade Federal não somente por mim, mas por todos os/as ancestrais encantados/as e vivos/as, que lutaram e lutam cotidianamente para manter viva e acesa a chama do Circo e das nossas tradições. Para documentar essa história linda e de superação, além de ocupar esses espaços de formação e poder, não para dar voz ou ser voz, pois as suas são mais do que suficientes, mas para ser também mais uma voz ativa em lugares que não foram pensados e criados para nós, para ecoar a riqueza da contribuição incomensurável dos nossos Povos Ciganos para o Circo, além da formação cultural, identitária, social e histórica do nosso Brasil, que é também Cigano-Circense- CIGANANENSE, tem que aceitar! ”, comemorou Roi Rogeres.

“Essa aprovação só foi possível porque os meus ancestrais permitiram e fizeram florescer em mim esse desejo pulsante de fazer retornar o que lhes pertencem, e seguir lutando de formas outras pelo reconhecimento e projeção que merecem. Para que sejamos tratados como SUJEITOS e AUTORES, e não mais como meros OBJETOS de pesquisas, como até aqui têm sido feito muitos/as pesquisadores/as. Que muitos outros Ciganos, especialmente de tradição circense, ocupem esses lugares e espaços se quiserem, pois infelizmente são raros/as os/as doutores/as ciganos/as, possíveis de serem contados nos dedos, e quando acessamos fortalecemos as diversas lutas de nosso povo!”, complementou.

Trajetória – Roi Rogeres nasceu em Pernambuco, e é o quarto de seis filhos, tendo cada um nascido em um Estado diferente do Brasil em itinerância com os circos. Na adolescência, deixou a vida itinerante para fixar acampamento e estudar em Feira de Santana, onde cursou Jornalismo na Faculdade Anísio Teixeira (FAT), com bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni). Esteve educando em Artes Cênicas na Ufba, onde concluiu em 2023 o mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU), na linha de pesquisa Políticas Públicas, Cultura, Gestão, e Bases Históricas e Conceituais da Universidade, com um estudo autoetnográfico acerca das políticas públicas do ensino superior – ações afirmativas – para os Povos Ciganos.

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