Aluno do IHAC conta suas experiências na caravana

Um dos alunos do IHAC, do BI em Artes, está viajando com a caravana da INULAT (Iniciativa UFBA Latina). Seu nome é Ramon Coutinho, de 25 anos, que já possui licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Católica do Salvador. Ele nos concedeu uma entrevista, direto de Lima, para contar um pouco da experiência que adquiriu nos seis países onde a caravana já passou e das suas expectativas e planos após essa experiência.

O que lhe motivou participar dessa caravana?

Sempre tive uma inquietação com o meu conhecimento teórico sobre a América Latina. Os livros, filmes e a arte sempre foram uma via de acesso a essas culturas do mesmo modo que me instigavam para a necessidade de aprofundar esse contato, ainda mais por conviver numa sociedade que volta muito mais seu olhar para as culturas européias e norte-Americanas. A Caravana surgiu de repente pra mim com uma proposta ampla de integração regional através do contato direto entre os povos e instituições… A empolgação em participar do projeto foi instantânea, tanto por um interesse acadêmico como enquanto indivíduo que pretende pensar, discutir e interferir ativamente em nossas realidades sociais sul-americanas.

O que mais, nessa viagem, lhe motivou até agora?

Quanto mais andamos mais nos deparamos com realidades que atestam a nossa ignorância. Contraditoriamente, essa ignorância acaba incentivando toda busca por conhecer a história, o cotidiano de cada lugar… A motivação vai sendo construída a cada dia baseada na vontade de encontrar o novo, imprevisível, e partir dele desenvolver um olhar crítico e poético. Acredito também que as pessoas que fazem parte da Caravana acabam interferindo bastante em todo esse processo de motivação e integração… Tudo isso seria impossível sem esse nível de compromisso coletivo.

Quais foram os países já visitados? O que você encontrou mais de incomum nesses países?

Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e agora estamos no Peru. É engraçado a tentativa de traçar comparações entre esses países e o Brasil num curto espaço de tempo… A sensação de desterritorialização é constante, ao mesmo tempo que um sentimento de pertencimento com todo o continente cresce aos poucos. Ser percebido como ‘’o outro’’, o diferente, também é uma sensação bastante estranha pra mim. Em cada país há uma particularidade que supreende, como, por exemplo, o trânsito absurdamente caótico de La Paz ou como há uma grande consciência dos povos andinos sobre sua história. O incomum (não como exótico) é algo com o que mais nos deparamos nessa viagem…

O que mais lhe encantou?

Essa é a questão impossível de se responder depois de tantos lugares e pessoas… Um encantamento acaba sempre remetendo a um outro. Desde as pequenas e amistosas conversas com as pessoas nas ruas até a grandiosidade e a beleza do Deserto do Atacama, do Lago Titicaca, tudo acaba por tornar cada lugar diverso pelas particularidades, mas parecido pela intensidade da experiência. Acho que consigo definir mais aquilo que não me encantou…

Que imagem você tinha e mudou quando a conheceu de perto?

Todas. Tudo muda quando nos aproximamos, ainda mais se tratando de países tão ricos em diversidades culturais, históricas e políticas. Algumas impressões se completam com as que eu tinha antes, outras são recriadas, outras construídas, mas todas mudaram com o contato direto.

Vocês já visitaram algumas Universidades. Quais? Você já fez alguns contatos profissionais?

Uma das propostas da Caravana é justamente possibilitar visitas às Universidades e que, assim, cada estudante possa entrar em contato com sua área de graduação e pesquisa. A Unila – Universidade Federal da Integração Latino-Americana (uma das grandes apoiadores do projeto), em Foz do Iguaçu, a Universidade de la República, em Montevidéu,  Universidade do Chile, em Santiago, e aqui em Lima, no Peru, a Universidad San Marcos.

Sei que, ao retornar ao Brasil, o grupo deve organizar um evento sobre integração regional na América do Sul, em Salvador, e produzirá dois documentários sobre a viagem realizada.

Você participará da realização desse documentário? De que forma?

Acho que a participação aqui acaba se dando de maneira mais informal, com idéias e conversas, o que não impossibilita uma participação mais efetiva na construção posterior do documentário, que terá meses de pós-produção. Estou captando algumas imagens para, quem sabe, depois, produzir um curta de documentário sobre essa experiência. Há também um outro ótimo documentário que estou participando, sendo realizado por Carlos Vin Lopes, um dos caravaneiros.

Na Bolívia visitamos o sítio arqueológico pré-inca de Tiwanaku, onde tentei registrar, ao máximo, inclusive com um pequeno vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=OqgZgfFfpDM), mas o que senti lá acho que eu mesmo saberei.

Você pretende escrever um livro sobre essa viagem? Ou fazer uma coletânea de imagens fotográficas e publicá-las?

A idéia inicial é a produção livre de textos, crônicas e poesias para o meu blog, assim como o registro fotográfico sobre aspectos do cotidiano de cada país, mas após toda essa experiência acredito que haverá muitas outras possibilidades de desenvolvimento artístico mais audaciosos, como, por exemplo, um roteiro de curta metragem voltado para temas latino-americanos, assim como um artigo sobre essa integração através do cinema contemporâneo no continente… Uma idéia vai empolgando outra.

Você tem um blog intitulado Subliterato. Por que essa condição sub? Por que você se considera um sub literato?

Acho que assumir uma posição de marginalidade é um modo de questionar e resistir contra uma série de imposições históricas, econômicas e culturais que nos acostumamos a aceitar, buscando não só denunciar, mas criando novas alternativas particulares e coletivas de ação. O blog subliterato é um modo tímido, mas extensivo de discutir minhas impressões sobre as coisas através das palavras e imagens, acho que nelas estão as respostas sobre essa condição sub… 

Leia textos e veja fotos e vídeos da viagem no blog http://subliterato.blogspot.com/